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Inteligência Artificial no Futebol

Jorge Caiado

Empresas como a Opta Sports, Wyscout, wTVision e Prozone recolhem e fornecem dados (estruturados e não estruturados) de jogos, jogadores e treinadores de clubes de futebol de todo o mundo, que permitem aos analistas e cientistas de dados extrair padrões, classificar e obter previsões de grandes coleções de dados ligados ao fenómeno do futebol.

 

 

O futebol é atualmente o desporto mais popular e com o maior número de fãs e praticantes no mundo. De acordo com um estudo recente da UEFA, o futebol tem um impacto económico (emprego, infraestruturas, eventos, publicidade) e social (saúde, bem-estar, educação, voluntariado, redução do crime) de milhares de milhões de euros.  Em Portugal, estima-se que o negócio do futebol contribua anualmente com cerca de um bilião de euros para o PIB (0.3%), dos quais 200 milhões em contribuições fiscais, gerando emprego para mais de 3500 pessoas. Em Espanha, estes números são impressionantes. De acordo com a consultora PwC, a indústria do futebol profissional emprega cerca de 200 mil pessoas e movimenta um volume de negócios superior a 16 biliões de euros. 

 

 

O aumento do investimento em jogadores, marketing e patrocínios desportivos, a forte tendência de crescimento das receitas de apostas ligadas ao futebol, acompanhando as transformações tecnológicas e de inteligência artificial (IA), têm potenciado novas oportunidades de negócio para o futebol. Na verdade, a IA está a transformar a indústria do desporto em geral, não apenas o futebol. Desde a análise de jogos, ao desempenho dos jogadores e das equipas, à previsão de resultados desportivos, audiências televisas, afluência de espetadores e receitas de apostas desportivas, ao envolvimento e experiência dos fãs, ao marketing e publicidade desportiva, às transmissões televisivas e streaming, a IA está a provocar a disrupção na forma como as organizações, empresas e agentes desportivos lidam com o futebol e tomam decisões estratégicas e operacionais.  

 

Empresas como a Opta Sports, Wyscout, wTVision e Prozone recolhem e fornecem dados (estruturados e não estruturados) de jogos, jogadores e treinadores de clubes de futebol de todo o mundo, que permitem aos analistas e cientistas de dados extrair padrões, classificar e obter previsões de grandes coleções de dados ligados ao fenómeno do futebol. Com a ajuda da IA, estes especialistas conseguem analisar uma infinidade de movimentos de jogadores (passes, fintas, remates, rotações, corridas, choques, etc.) em campo e nos treinos, ajudando os treinadores a identificar as suas forças e fraquezas na preparação técnico-tática dos jogos. A utilização de tecnologias de sensores e vídeos nos treinos permite recolher informações, em tempo real, e identificar padrões dos níveis de saúde, stress e resistência dos seus atletas, ajudando-os a prevenir lesões e a maximizar o seu desempenho. 

 

 

A IA pode ainda ser usada para analisar dados históricos de jogos e efetuar análise preditivas dos principais indicadores desportivos e de negócio do futebol (resultados, audiências, espetadores, receitas de apostas, etc.) de modo a tomar decisões mais assertivas na organização e gestão de eventos desportivos. Na área de marketing e publicidade, a IA pode ajudar a oferecer melhores conteúdos comerciais, identificando os melhores momentos dos jogos para apresentar os anúncios publicitários mais relevantes de acordo com o perfil e os dados demográficos dos adeptos e espetadores. Os algoritmos de Deep Learning conseguem monitorizar as ações dos jogadores, as emoções dos espectadores e as suas expressões o que permite identificar e classificar os momentos mais emocionantes do jogo.  Algumas plataformas de IA usam câmaras que podem ajudar os jornalistas de jornais desportivos e técnicos de televisão a escolher os destaques de cada jogo de futebol, as imagens com os melhores ângulos da câmara e até as legendas de acordo com os intervenientes (equipas, jogadores, treinadores, árbitros) e locais dos jogos. 

 

No que se refere aos adeptos, a IA pode ser usada para personalizar experiências com os fãs, analisando os seus dados nas principais redes sociais (Facebook, Instagram, LinkedIn, YouTube, TicTok, etc.), recolhendo e processando informações sobre as suas preferências, comportamentos e relações sociais com outros adeptos de modo a poder fornecer conteúdos e campanhas de marketing direcionados aos seus interesses. A utilização de novas tecnologias baseadas em algoritmos de IA como a visão computacional, o reconhecimento de imagem e a realidade aumentada podem ajudar as ligas de clubes e os seus dirigentes a organizar grandes eventos desportivos em segurança, facilitando aos adeptos a aquisição de ingressos e a sua entrada e saída dos recintos desportivos, a identificação de fatores de risco e objetos proibidos e perigosos nas imediações dos estádios ou na posse de adeptos. Por outro lado, estas tecnologias podem ser usadas para extrair informações uteis dos jogos e transmissões ao vivo e serem partilhadas em tempo real com os fãs, como fazem os dirigentes do Tottenham Hotspur Stadium em Londres, aumentado o seu envolvimento, experiência e interesse com o fenómeno desportivo. Os acessos aos recintos desportivos e movimentação dos adeptos dentro do estádio nas deslocações a bares, casas de banho e lojas de merchandising podem ser automaticamente monitorizados e otimizados por IA através de sistemas de reconhecimentos de imagem e de navegação e orientação, evitando filas de espera e aglomerados em bilheteiras e nos locais de convívio dos fãs.

 

A utilização de IA pelos clubes de futebol profissional em Portugal ainda não é uma realidade para a larga maioria dos clubes por vários motivos. A IA só funciona bem com dados de qualidade e em grandes quantidades (“big data”), que requerem uma adequada preparação antes de ser usados pelos algoritmos de aprendizagem. Os clubes, muitas vezes, não têm uma quantidade suficiente de dados para treinar os modelos de IA. A implementação de soluções de IA pode exigir a integração com sistemas e processos existentes, o que constitui um desafio e um obstáculo para alguns decisores que não compreendem completamente as vantagens de utilização da IA no futebol e o seu retorno financeiro e desportivo. Os custos, a resistência à mudança e a falta de profissionais altamente qualificados nesta área são outros fatores que têm inibido a implementação de tecnologias de IA. Para dar resposta a estes desafios, a Liga Portugal está a construir uma plataforma de centralização, monitorização e extração de padrões de dados do futebol português, usando ferramentas de IA, que poderá ser muito útil aos clubes de futebol para a sua gestão financeira, desportiva e organizacional.

 

Não podemos falar de inteligência artificial no futebol sem apontar algumas das suas limitações. A IA ainda não consegue compreender completamente as subtilezas do futebol, como a leitura de jogo, as decisões táticas, as decisões de arbitragem, as emoções, paixões e lesões dos jogadores, as escolhas dos treinadores, e outros comportamentos imprevisíveis de jogadores e adeptos que são uma parte fundamental do espetáculo do futebol. Na verdade, os modelos de IA devem ser usados em colaboração com o conhecimento e experiência humana, combinado os modelos preditivos com as opiniões e juízos dos especialistas e conhecedores da matéria substantiva. 

 

Uma coisa é certa, a IA veio para ficar e o futebol tem de se adaptar às novas tecnologias de IA de modo a melhorar a performance dos jogadores e das equipas e ser um desporto mais justo e atrativo para todos.     

Jorge Caiado 
Coordenador da Pós-Graduação em Applied Artificial Intelligence & Machine Learning 

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